2008-02-08

Religião e dinheiro

A postagem do Paulo sobre as opiniões de Bento XVI a propósito da esmola, colocam a vexata quaestio da relação entre o dinheiro e a religião. Para ver o problema de outro ângulo, segue um exemplo que, embora nos tenha até agora passado ao lado, está bem presente na realidade britânica.
Os muçulmanos britânicos viram-se confrontados com o dilema de contrair empréstimo e assim infrigirem as leis corânicas, muitos decidiram não o fazer. Hoje o mercado bancário adaptou-se às suas necessidades e grande parte dos bancos (HSBC, Bristol & West, Lloyds etc) já oferecem esse tipo de empréstimo.
O Islão não se opõe à riqueza mas exige a condição de que seja criada em sociedade e de forma equitativa, com riscos e lucros partilhados. O juro não é admitido pela sharia (lei religiosa muçulmana).
Assim os muçulmanos britânicos não pagam juro mas antes uma renda ao banco e só no final se tornam proprietários (mais ainda têm de pagar 20% do valor da propriedade como entrada). O mercado que era um nicho ampliou-se está hoje avaliado em mais de um bilião de libras no Reino Unido.
Este aspecto, seja dito de passagem, é um dos muitos em que os britânicos mostram a sua capacidade de integração de comunidades culturais diferentes. O próprio arcebispo de Cantuária defendeu recentemente que alguns aspectos da sharia deveriam ser introduzidos no sistema legal britânico como o divórcio para que as mulheres escapassem aos procedimentos de divórcio ocidental. As suas declarações foram, no entanto, refutadas pelo porta-voz de Brown, com o argumento de que alterações não deveriam ter a sharia como justificação, mas tão-só os valores britânicos, mesmo que em certos casos como o imposto de selo - que em um empréstimo conforme a sharia seria pago duas vezes - tivessem sido feitos ajustamentos para não discriminar quem cumprisse a sharia.

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